sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Artigo

Artigo


TV Digital : Por uma implantação do modelo brasileiro.


Elenilda de Azevedo Silva

Introdução


A televisão é um agente socializador e formador de opinião. Desse modo, é um dos mais importantes meios de difusão de informações e entretenimento da humanidade. Assim, a TV é um veículo que transforma, que educa e, portanto, torna-se um mediador do saber dentro da realidade brasileira. Além disso, é um espaço público, ou seja, qualquer problema da tv é um problema da sociedade.

Assim, com a implantação da TV Digital no Brasil, surgem questões que não estão claras para especialistas, pesquisadores e outros segmentos da sociedade em geral. Uma das questões é: Por que o governo adotou o modelo de tv digital japonês, ao invés do modelo brasileiro? O que se tem divulgado por pesquisadores é que o modelo de TV Digital brasileiro supera tecnologicamente o modelo estrangeiro. Portanto, o objetivo desse artigo é discutir sobre a proposta inicial do SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital) e, apontar as vantagens que o modelo de tv digital brasileiro oferece para a sociedade, pois atende às deficiências e demandas específicas do Brasil, e desvantagens da adoção do modelo estrangeiro.

Sobre a TV Digital

A TV Digital permite fazer uma coisa que os computadores já fazem, que é tratar indistintamente os dados. No computador pode-se ver filme, escutar um rádio ou editar um texto. Assim, no computador uma foto, um vídeo ou uma música são a mesma coisa, números. Antes uma coisa era rádio, outra era tv, outra era transmissão de dados, agora tudo é dígito. (Gindre, 2006).

Dessa forma, a televisão digital produz digitalmente e transmite também digitalmente. Portanto, a televisão digital permite que se coloque transmissão de dados na tv, e ela pode passar a ser interativa com um canal de retorno, que é a própria televisão.

No mundo, existem atualmente três tipos de TV Digital, sendo um produzido nos Estados Unidos, outro no Japão e um terceiro na União Européia. No Brasil, foi desenvolvida sua própria tecnologia para TV Digital, com o objetivo de ter um padrão mais adequado à realidade brasileira.

Contudo, em 2006 (ano da copa do mundo), o governo oficializou a escolha pelo padrão de modulação japonês ISDB – (Integrated Services Digital). Este modelo tem programas em alta definição (HDTV) e transmite sinais não só para tv tradicionais, mas para celulares e demais equipamentos móveis. Vale ressaltar que o acordo com o Japão é muito antigo, vem da época de Fernando Henrique Cardoso. Sabemos que o acordo feito com o Japão favorece as características do capitalismo contemporâneo, que busca a maior liberdade dos agentes privados, marcadas pela concentração da propriedade, e pela submissão do estado às exigências do capital internacional.

“O Brasil, historicamente, resolve seus problemas apelando para soluções externas e copiando modelos estrangeiros.” (Mota, 2006). Diante desse fato, podemos dizer que o país tem que ter autonomia, ter independência para produzir sua própria tecnologia. O nosso país tem recursos tecnológico e econômico para ser produtor e exportador, no entanto, o governo opta pelo padrão estrangeiro. Sabemos que essa decisão agrava ainda mais as desigualdades sociais, pois o modelo de TV Digital japonês beneficia um pequeno grupo da sociedade brasileira. E assim, podemos afirmar que usando o que já existe no mercado internacional colocamos mais uma vez o país subordinado aos imperativos estrangeiros.

O Sistema Brasileiro de Tv Digital (SBTVD)

A proposta inicial do SBTVD (Sistema Brasileiro de Tv Digital), baseava-se em princípios como a democratização das comunicações, a promoção da diversidade cultural, a inclusão social, o desenvolvimento da ciência e indústria nacionais (conforme o Decreto Presidencial 4.901).

“Assim, adotar o sistema brasileiro de TV Digital seria ideal, uma vez que foram trabalhadas todas as possibilidades de adequações as realidades brasileiras e tem a mesma qualidade do japonês (ISDB).” (Cabral, 2006). O modelo brasileiro desenvolveu um sistema que permitia que tanto o cidadão que mora numa casa simples, como aquele que mora numa mansão tivesse acesso à rede mundial a partir do sinal de tevê aberta. Nesse sentido, seria um modelo concebido diante das condições brasileiras e que favorecesse os objetivos do país, tendo em vista o perfil de renda da população e as novas possibilidades abertas, através da interatividade.

Portanto, percebemos que essas características atendem as condições necessárias para o país, pois garantem que um número significativo da população tenha acesso a essa tecnologia. Da mesma forma, os outros modelos (europeu, japonês e americano) são concebidos de acordo com as condições e peculiaridades de cada país.

Nas pesquisas realizadas pelas universidades brasileiras, foi organizado um sistema inteiramente novo no mundo, o que abriria a perspectiva de transformar o país num fornecedor mundial de tecnologia, sobretudo àqueles países com características semelhantes as do Brasil. Contudo, o governo não considerou toda pesquisa e conhecimento que foi produzido e demonstrou o comprometimento com as empresas de radiodifusão – em especial a Rede Globo – as que defendem o modelo japonês.

Isso significa dizer que os empresários das grandes mídias buscam o controle da tv digital no país. Desse modo, as grandes emissoras mantêm-se como responsáveis por todas as atividades, como fazem na tv aberta, ou seja, não é necessário mudar nada. A intenção das grandes empresas é garantir o monopólio, sem levar em conta os interesses da sociedade.

Dessa forma, a sociedade brasileira perde a oportunidade de se tornar um grande produtor mundial de conteúdo audiovisual multimídia. Também perde a oportunidade de oferecer novos espaços de trabalho, pois adotar tecnologias dominadas por técnicos brasileiros, baseados em Software livre, adotando padrões e mecanismos que possibilitem a criação e reprodução desses conteúdos, abre novos nichos de trabalho para brasileiros. Vale ressaltar que boa parte do ISDB (modelo japonês) é feita com Software proprietário da Microsoft. Contudo, hoje sabemos a importância do Software Livre para o desenvolvimento tecnológico do país. Isso significa a liberdade que usuários têm de executar, modificar o programa sem ter que pedir permissão ao programador.

O Brasil já tem pronto o middleware brasileiro de software intermediário, que permite o desenvolvimento de aplicações interativas para a tv digital. Além disso, “o middleware brasileiro é o único do mundo que permite SDTV (Super Definiton Television, sistema Standard), ou seja, oferecer no mesmo canal várias programações (multiprogramção)”.(Filho, 2007). Segundo notícias na imprensa, as pesquisas brasileiras serão incorporadas em segundo momento. De acordo os pesquisadores, o governo ainda não apresentou justificativa que aponte o ISDB como a melhor opção para o Brasil. Portanto, fica claro que a prioridade é o atendimento dos interesses privados.

Considerações finais

Assim, com a adoção do modelo japonês, a tv digital corre o risco de se tornar acessível apenas a uma pequena parcela da população. Desse modo, continua tudo como está não muda nada. Por outro lado, com o modelo de tv digital brasileiro alcançaríamos de forma abrangente, a inclusão digital e, conseqüentemente, a inclusão social, pois para essa abrangência é necessário utilizar a televisão aberta (terrestre), que é a maioria nos domicílios brasileiros, com baixos custos. Sabemos que isso significa provocar mudanças sociais, ajudando a sociedade a evoluir sem ser só mais uma rede de televisão.

Portanto, o modelo de tv digital brasileira seria uma oportunidade única para promover a diversidade cultural, fortalecer a democracia, desenvolver a ciência e tecnologia nacional e a inclusão social. Isso significa cumprir com a proposta inicial do SBTVD, levando em consideração os interesses da sociedade brasileira.


Referências:

CABRAL, Eula D. Taveira. Implantação de TV Digital no Brasil exige transparência. Ed. Sete Pontos. n.33 março de 2006.< http://www.comunicacao.pro.br/setepontos/33tvdigmodelo.htm>. Acessado em 14 de nov.de 2007.

FILHO, André B. TV Digital: O que a gente tem a ver com isso? 21 de Novembro de 2005. Disponível em. < option="com_contnt&task="99">. Acessado em 14 de nov.de 2007.

GINDRE. B. Perguntas e Respostas sobre a TV Digital. <> Acessado em 14 de nov.de 2007.

LEMOS, André. Cibercultura. Facom. Será?. Sobre a TV Digital. 30 de jun de 2006.<>. Acessado em 30 de out. de 2007.

MOTA, Regina. Uma questão de autonomia.<> Acessado em 14 de nov.de 2007.

2 comentários:

caisa cruz disse...

Elenilda, seu artigo sobre a tv digital esclarece as pessoas q não sabem nada sobre o assunto. Essa q vem para mudar a vida das pessoas vai ser de grande importância para a era digital.

silvana disse...

Frustração! Essa é a única palavra que me ocorre no momento para definir o meu sentimento com o lançamento da Tv digital. Honestamente não senti nenhuma alegria com o lançamento, aliás, nem assisti.
Saber que temos tecnologia própria e vamos usar a dos outros por conveniências capitalistas dá um sentimento de importência horrível.
Traço um paralelo ,simplório é verdade, de todo o trabalho de pesquisa e produção que foram feitos para o projeto da DTV brasileira, com o nosso, nos trabalhos de rádio, tv, web e impressos. E se eu, fique arrasada com a decisão pela DTV japonesa, imaginem, as pessoas envolvidas no projeto brasileiro!
Mas enfim, não podemos desistir, vamos divulgar o que sabemos e quem sabe as coisas mudam?